quinta-feira, 29 de agosto de 2013


Falando nele

Não o vejo há um tempo, mas tudo bem, todos os dias acordo com ele na cabeça depois de dormir com ele na cabeça e sonhar com ele durante as noites.Ah tá, não estamos falando nele né! Ok levantei da cama, fui pra cozinha, mel aveia e leite, foi a medica quem indicou, depois inhame, inhame deveria ser proibido, deveria ser banido. Olhei pro relógio e me apressei, afinal de contas apesar de ser domingo eu tinha um compromisso logo cedo.
Já na rua, pensei que Julie riria de mim quando eu contasse pra onde estou indo, talvez Lily apenas balançasse negativamente a cabeça, eu mesma ri. Mas continuei caminhando, aquelas ruas arborizadas me davam um alto astral, algumas casas com musica alta mesmo àquela hora da manhã! Logo que virei a rua vi a pequena porta de longe, sem placa sem identificação, nada. Apenas uma porta. Respirei fundo e marchei. Girei a maçaneta e caminhei lentamente pelo corredor, varias portas cor de mogno, até chegar a uma pequena porta branca com uma maçanete em forma de flor. Entrei sem bater, quatro mulheres me receberam com um sorriso simpático que fiz questão de retribuir, talvez para esconder o nervosismo.
-bom dia – falei
-bom dia- retrucaram em uníssono
-bom, podemos começar então – disse uma mulher mais velha, ruiva de óculos gatinhas e batom roxo, apontando para mim.
-Meu nome é Catherine-pigarreei
-bom dia Catherine– as mulheres repetiram, o que me causou um Deja vù
-bom – vacilei – eu, eu me chamo Catherine e estou há um mês sem falar dele. Tentarei, só mais um dia.
-parabéns Catherine- todas disseram, como autômatos.
Depois de ouvir uma a uma, sai discretamente antes da distribuição de chazinho de cidreira e bolinhos de chuva. Era verão, e a visão daquela mesa em pleno domingo de sol, me deu preguiça,me fez achar que tudo estava errado, até o fato de eu estar ali. E era. Afinal de contas eu mentira, ontem mesmo, tomando vinho sozinha em casa, liguei pra Julie e perguntei por ele, como quem não quer nada, mas ela sabe que eu queria, que eu quero! Decidi voltar pra casa, ao invés de ir à praia como eu havia imaginado. E fui, voltei pro inhame, pra almofadas coloridas, pra mais um dia, pensando e pensando e sem querer pensar em ninguém, e depois de muito pensar, percebi que esse turbilhão era condição que eu me impus, mas depois de cinco minutos tornei a lembrar dele, fui comer chocolate.

-Luna G.
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